- quarta, 27 de dezembro de 2023
Pacientes com COVID-19, além de manifestarem sintomas respiratórios graves, podem apresentar problemas neuromusculares, como a perda de massa muscular e de força. Isso ocorre devido ao longo período de imobilização prolongada no leito e principalmente devido à inflamação neuromuscular causada pelo SARS-CoV-2.
Há uma maior taxa de mortalidade em pacientes com COVID-19, que desenvolvem alterações neuromusculares, o que aumenta expressivamente o tempo de ventilação mecânica e de internação nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Isso tem causado uma sobrecarga aos sistemas público e privado de saúde.
Uma tecnologia brasileira desenvolvida pela empresa Visuri, referência em soluções disruptivas para a área da saúde, com cooperação científica de pesquisadores brasileiros e europeus, tem sido uma alternativa para a reabilitação precoce desses pacientes criticamente enfermos. Trata-se do Sistema de ativação e monitorização neuromuscular automático, o ReCARE. Baseado na interação homem-máquina, o equipamento permite a contração dos músculos independente do esforço dos pacientes.
Desde março de 2020, equipes de fisioterapia, em hospitais de Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal e Pernambuco já têm utilizado essa tecnologia como alternativa para prevenir e tratar as sequelas funcionais e diminuir o tempo de internação dos pacientes nas UTIs.
“O suporte neuromuscular avançado é uma terapia segura e eficaz para reduzir a perda de força e massa muscular. Por meio de estímulos elétricos controlados e automatizados, é possível diminuir a incidência de polineuromiopatias. Para garantir a eficiência do tratamento e a segurança dos pacientes, é preciso entregar altas densidades de corrente elétrica, porém rigorosamente controladas e simetricamente distribuídas nos músculos. Isso permite uma estimulação mais uniforme, segura e eficaz”, explica o Dr. Paulo Eugênio Silva, coordenador do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Clínica e Inovação Tecnológica (CNPq), um dos idealizadores da tecnologia ReCARE.
Em Belo Horizonte (MG), a equipe de fisioterapia do Hospital Vila da Serra tem realizado o suporte neuromuscular com o ReCARE para tratar pacientes críticos desde junho de 2020. “Nesse momento da pandemia da COVID-19, com a UTI lotada e muitas intercorrências, esse tipo de tratamento tem sido fundamental para reduzir o tempo de internação e a taxa de reinternação dos pacientes. A automatização da terapia e outras funções disponíveis no ReCARE permitem que os fisioterapeutas atendam a um maior número de pacientes”, conta a coordenadora do departamento de fisioterapia do Hospital, Clarissa Matos.
No tratamento do engenheiro Ricardo Coimbra, internado por 40 dias, sendo 13 dias sob ventilação mecânica, no Hospital Esperança, em Recife, a reabilitação precoce e atuação multidisciplinar na UTI foi crucial para a sua rápida recuperação, como explica o fisioterapeuta intensivista, Francimar Ferrari, que há mais de 10 anos utiliza estímulos elétricos para tratar pacientes hospitalizados: “Mesmo em pacientes sob uso de bloqueadores neuromusculares, temos conseguido realizar o tratamento com o ReCARE mantendo músculos e nervos saudáveis para o momento do despertar dos pacientes. Quando a sedação é retirada, os pacientes estão aptos para realizar suas atividades de vida diárias”, explica.
Para Ricardo, a sua recuperação foi surpreendente. “Minha família já estava pensando em adquirir uma cadeira de rodas após a minha alta, mas consegui sair do hospital andando”, comemora.
Sistema público de saúde e cooperação mundial
Está sob aprovação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, recurso para disponibilização dessa tecnologia de suporte neuromuscular avançado em hospitais do Sistema Único de Saúde. O objetivo é democratizar o acesso desse tratamento, por meio do programa governamental.
Segundo o pesquisador Paulo Eugênio Silva, o ReCARE é o único dispositivo com registro na Anvisa para uso em UTI, com a maior potência disponível no mercado e o único com doze canais a reunir ferramentas de diagnóstico e terapia. “O alto custo para importar equipamentos convencionais e com configurações inferiores poderia inviabilizar a adoção desse tipo de tratamento à maioria dos hospitais”, conclui.
Paulo explica que os estudos e experiências clínicas no Brasil têm motivado outras pesquisas no mundo, como é o caso da Universidade de Lausane na Suíça, que importou a tecnologia ReCARE com o objetivo de conduzir estudos de avaliação neurofisiológica e tratamento em atletas e populações em risco de declínio funcional.